A aprovação por parte dos clubes da Liga da norma que confere a impossibilidade de dirigentes ou funcionários dos clubes prestarem declarações na condição de comentadores gerou opiniões díspares. Record falou com os dois únicos dirigentes que marcam presença regular em programas da televisão portuguesa: Rui Gomes da Silva e Augusto Inácio.

O vice-presidente do Benfica integra ‘O Dia Seguinte’, transmitido pela SIC Notícias, e foi claro na mensagem. "Julguei que os sistemas do futebol português eram outros. Não sabia que o mais importante do futebol era o que diziam os comentadores." Sem mencionar o nome do clube em causa, Gomes da Silva acusa o FC Porto de arquitetar tal medida que mereceu a abstenção de Benfica e Sporting na assembleia geral extraordinária ontem levada a cabo na sede da Liga, na cidade do Porto.

"Compreendo vindo de quem vem tendo a proposta origem em quem teve. A coisa menos relevante na minha vida é essa decisão da Liga. Eles que se preocupem com outras coisas", argumentou o dirigente das águias.


Já os leões preferem "esperar para ver", segundo referiu Augusto Inácio. "Tenho de estar bem inteirado do que foi aprovado e do seu conteúdo. O que é falar positivo, por exemplo? Se há um castigo que para mim me parece injusto não posso dizer que o foi? Não sei ainda em que termos poderei comentar", começou por dizer o diretor para as relações internacionais do Sporting, que diz depois que o exemplo deve sempre partir de cima.

"Quem tem de dar o exemplo para não haver esse tipo de comentários são as instâncias e não os comentadores. Se as entidades forem criteriosas e coerentes, e derem uma ideia de equidistância, acredito que nunca haverá problemas em relação a comentários. Estes só existem quando há coisas que não são claras e as pessoas não percebem. Tenho de perceber o contexto", sintetiza.

Inconstitucional para Guerra

O diretor de conteúdos da BTV, Pedro Guerra, também se mostrou contra a medida e acredita que "o Benfica não tenha votado a favor da alteração", classificando a decisão como "absurda". "É bem reveladora do espírito que reina na mente de alguns dirigentes do futebol português. Seria o mesmo que o Parlamento decidisse sancionar os comentadores políticos pelas opiniões que exprimem livremente nos vários programas televisivos. Para mim, esta decisão é claramente inconstitucional por violar a liberdade de opinião." Mas o comentador residente no programa ‘Prolongamento’ da TVI não fica por aí. "Não acredito que o Instituto Português da Juventude, entidade pública a quem compete assegurar que os regulamentos cumprem com a lei, deixe passar esta decisão. Seria interessante auscultar a Provedoria da Justiça sobre esta decisão."

Autor: Flávio Miguel Silva