Vá pelos seus dedos: viagem à história da fundação do jornal desportivo portuguêscom 70 anos de vida
Cândido Fernandes Plácido de Oliveira é um nome incontornável do futebol português.
Muitos só o conhecem através da Supertaça, mas Cândido de Oliveira é mais que isso.
Alcunhado pelos amigos mais íntimos de chumbaca, graças à sua figura física corpulenta e atarracada, é tudo e mais alguma coisa: futebolista, seleccionador, treinador, dirigente e jornalista. Nasce a 24 de Setembro de 1896 em Fronteira, distrito de Portalegre, e é reencaminhado para a Casa Pia, onde cedo se revela um mestre na arte de jogar futebol como médio de ataque, com qualidade de passe e voz de comando.
O Benfica acompanha-o desde o início e inscreve-o em 1914, como avançado- -centro (e um golo na estreia oficial: 5-0 ao Internacional). Por lá ficaria até 1920, ano em que volta à casa-mãe, onde venceria o seu quinto Campeonato Regional de Lisboa. No ano seguinte, a 18 de Dezembro de 1921, seria o capitão da selecção no primeiro jogo de Portugal, em Madrid, com a Espanha (derrota por 3-1). Terminada a carreira de jogador, Cândido continua ligado ao futebol.
Como seleccionador nacional é o responsável pela campanha nos Jogos Olímpicos Amesterdão-1928 e ainda pela estreia de alguns valores indiscutíveis do nosso país, como José Águas e Matateu.
A sua coragem intelectual só lhe cria problemas e mais problemas. É preso pela PIDE e interrogado vezes sem conta. Brutalmente torturado e espancado, a ponto de lhe terem partido todos os dentes, em 1942 é enviado para o campo de concentração do Tarrafal, onde permanece até 1944 - escreveria o livro "Tarrafal, O Pântano da Morte", publicado a título póstumo, após o 25 de Abril de 1974.
Demitido dos Correios Telégrafos e Telefones (CTT), onde trabalhara longos anos e atingira a elevada função de inspector de exploração, Cândido de Oliveira é libertado e oferecem-lhe o cargo de volta mais o de seleccionador naciona
Só aceita o segundo, mas não se mantém por muito tempo. O Sporting chama-o e depois é o Flamengo, em 1950.
Entre a saída do Tarrafal, em 1944, e a chegada ao Rio de Janeiro, em 1950, uma novidade aquece a sociedade portuguesa por intervenção directa deste senhor.
A 29 de Janeiro de 1945 (há 70 anos, portanto), Cândido de Oliveira funda o jornal "A Bola", com a ajuda de Ribeiro dos Reis e Vicente de Melo. A ideia nasce à mesa de um café de Lisboa e o primeiro número custa um escudo, mais cara que a revista "Stadium", então a líder de mercado.
De início "A Bola" é editada às segundas e sextas-feiras. Troca-se depois a sexta pela quinta-feira. Passa um ano e o jornal tem a edição suspensa por um mês por ordem da Comissão de Censura por causa de um texto sobre a selecção inglesa de futebol. Em Julho de 1950, a coincidir com a vitória do Benfica na Taça Latina, "A Bola" passa a trissemanário e é o sábado o dia eleito. Esta fórmula vencedora mantém-se até Março de 1989.
Nesse hiato temporal há histórias e mais histórias. A mais conhecida tem a ver com a chegada de Rute Malosso. Ou melhor, Eusébio da Silva Ferreira. À sua espera no aeroporto da Portela, um só jornalista, Cruz dos Santos, de "A Bola". "Foi a saca-rolhas que lhe fiz uma pequena entrevista, em que lhe perguntei se o que se dizia dele era verdade, que era um grande goleador, e ele disse que fazia uns golinhos."
Em 1992 entra a cor na primeira e última páginas, e, três anos depois (Fevereiro-1995), passa a ser o primeiro diário desportivo ao mesmo tempo que troca o formato xxl pelo de tablóide. Ganha-se elegância na arte da leitura, perde-se o élan de abrir os braços como se estivéssemos a fazer exercício com uma barra de ferro.
Por falar em golos, é o jornal "A Bola" que entrega desde 1952-53 a Bola de Prata, referente ao melhor marcador do campeonato nacional. O primeiro vencedor é Matateu, do Belenenses. O último é Jackson, do Porto. Entre eles, uma série de artistas da bola. Com bê minúsculo. O maiúsculo está reservado para o jornal com 70 anos de vida.
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